Por Eng. Carlos Mendonça, Especialista em Sistemas Hidráulicos Sanitários
O entupimento de mictórios representa um dos problemas mais recorrentes em instalações sanitárias comerciais, institucionais e públicas. Além do transtorno imediato, estas ocorrências geram custos significativos com manutenção corretiva, interrupção de serviços e potenciais danos à estrutura hidráulica do edifício. Com mais de 25 anos atuando na área de engenharia sanitária e gestão de instalações hidráulicas em grandes empreendimentos, tenho observado que muitos destes problemas poderiam ser evitados com medidas preventivas relativamente simples.
Neste artigo, compartilho seis estratégias comprovadas para prevenir o entupimento de mictórios, baseadas em evidências técnicas e na experiência acumulada atendendo centenas de casos ao longo da minha carreira.

A dimensão do problema
Antes de abordarmos as soluções, é importante compreender a magnitude da questão. De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), problemas relacionados à manutenção de sistemas sanitários representam aproximadamente 35% dos custos operacionais em edifícios comerciais. Deste percentual, cerca de 40% estão associados especificamente a entupimentos em mictórios e vasos sanitários.
Roberto Almeida, gestor de facilities de um shopping center em São Paulo com circulação diária de 45 mil pessoas, relata: “Antes de implementarmos um programa estruturado de prevenção, gastávamos em média R$ 8 mil mensais apenas com desentupimento de mictórios. Além do custo direto, havia o transtorno para os usuários e o impacto negativo na imagem do estabelecimento.”
Vamos agora às seis dicas fundamentais para evitar estes problemas:

1. Instale protetores/filtros específicos para mictórios
A instalação de protetores ou filtros especialmente projetados para mictórios é possivelmente a medida preventiva mais eficaz disponível atualmente. Estes dispositivos são desenvolvidos para permitir a passagem de líquidos enquanto retêm resíduos sólidos que frequentemente causam obstruções.
Existem diversos modelos no mercado, desde telas simples até sistemas mais sofisticados com propriedades antimicrobianas e aromatizantes. O importante é que estes dispositivos sejam instalados corretamente e substituídos conforme a recomendação do fabricante – geralmente a cada 30 a 60 dias, dependendo do fluxo de uso.
“A instalação de protetores com tecnologia antimicrobiana nos 32 mictórios do nosso centro empresarial reduziu em 78% os chamados para manutenção por entupimento”, afirma Marcelo Pinheiro, supervisor de manutenção de um complexo empresarial com 15 torres comerciais em Brasília. “Além disso, houve uma diminuição significativa das reclamações relacionadas a odores, um benefício adicional que não esperávamos.”
Estudos independentes conduzidos pela Universidade Federal de São Carlos demonstraram que mictórios equipados com protetores de qualidade podem funcionar até seis vezes mais tempo sem apresentar problemas de escoamento, em comparação com unidades desprotegidas sob mesmas condições de uso.

2. Estabeleça uma rotina de limpeza técnica adequada
A limpeza de mictórios não deve se limitar apenas às superfícies visíveis. Uma rotina de limpeza tecnicamente adequada inclui procedimentos específicos para a manutenção preventiva do sistema de drenagem.
Recomendo o seguinte protocolo, baseado nas diretrizes da ABNT NBR 5626 e em minha experiência prática:
- Limpeza diária das superfícies com produtos não abrasivos e bactericidas
- Limpeza semanal dos sifões e conexões aparentes
- Procedimento quinzenal de limpeza profunda com produtos enzimáticos específicos
Vale destacar que produtos convencionais com alta concentração de cloro ou soda cáustica, frequentemente utilizados por equipes de limpeza, podem danificar componentes de borracha e silicone do sistema, além de reagir quimicamente com a urina, criando depósitos cristalizados difíceis de remover.
Sandra Oliveira, consultora em gestão de limpeza para redes hoteleiras, compartilha: “Treinamos nossas equipes para utilizar produtos enzimáticos biológicos que literalmente ‘comem’ os resíduos orgânicos sem danificar as tubulações. O custo inicial é um pouco maior, mas a economia com manutenção corretiva compensa amplamente o investimento.”

3. Invista em mictórios com tecnologia adequada
Nem todos os mictórios são criados iguais. Os avanços em design hidráulico e materiais nos últimos anos produziram equipamentos significativamente mais eficientes e menos suscetíveis a entupimentos.
Ao selecionar mictórios para novas instalações ou substituição de unidades antigas, recomendo atenção aos seguintes aspectos:
- Sistemas com superfícies hidrofóbicas que minimizam a aderência de resíduos
- Desenho interno que elimina ângulos retos e pontos de acúmulo
- Sifões com inspeção facilitada para manutenção preventiva
- No caso de mictórios secos, certificação de compatibilidade com as normas técnicas locais
“Após a renovação dos sanitários do estádio, optamos por mictórios com tecnologia de escoamento vertical e superfície nanotratada. Em dois anos de operação desde a reforma, com público médio de 35 mil pessoas por evento, não registramos nenhum chamado para desentupimento”, relata João Ferreira, gerente de infraestrutura de um importante estádio de futebol do Rio de Janeiro.
De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (ABRAMAT), mictórios com tecnologia moderna podem representar um investimento inicial até 40% maior, mas reduzem em até 65% os custos operacionais ao longo de sua vida útil.

4. Dimensione corretamente o sistema hidráulico
Muitos problemas de entupimento têm origem no dimensionamento inadequado do sistema hidráulico que atende os mictórios. Tubulações subdimensionadas, inclinação insuficiente e ventilação inadequada são fatores técnicos que predispõem à ocorrência de obstruções.
Para instalações novas ou reformas, é fundamental seguir rigorosamente as especificações da ABNT NBR 8160, que estabelece os parâmetros para sistemas prediais de esgoto sanitário. Especial atenção deve ser dada aos seguintes aspectos:
- Diâmetro mínimo de 40mm para a tubulação de saída individual de cada mictório
- Inclinação de 2% nos ramais de escoamento horizontal
- Instalação de caixas de inspeção em pontos estratégicos para facilitar a manutenção
- Sistema de ventilação adequado para evitar o sifonamento negativo
O engenheiro Eduardo Campos, professor de instalações hidráulicas da Universidade de São Paulo (USP), explica: “Cerca de 40% dos casos de entupimentos recorrentes que analisei em consultorias tinham como causa primária erros de dimensionamento, especialmente em edificações antigas adaptadas para novos usos ou em ampliações mal planejadas.”

5. Implemente um programa de educação para usuários
Por mais surpreendente que possa parecer, o comportamento dos usuários é um fator determinante na frequência de entupimentos. A disposição inadequada de objetos como chicletes, pontas de cigarro, papel e outros resíduos sólidos nos mictórios é uma causa comum de obstruções.
Um programa efetivo de conscientização pode incluir:
- Sinalização educativa clara e objetiva nos sanitários
- Disponibilização de lixeiras adequadas e bem posicionadas
- Em ambientes corporativos, inclusão do tema em comunicações internas periódicas
- Em escolas e universidades, ações educativas específicas sobre o uso adequado das instalações sanitárias
Pedro Henrique Silva, administrador de um centro comercial em Belo Horizonte, relata uma experiência interessante: “Após uma análise dos entupimentos recorrentes, identificamos que muitos ocorriam após o período de almoço. Descobrimos que funcionários da praça de alimentação estavam descartando restos de alimentos nos mictórios para evitar o entupimento das pias. Implementamos um programa de conscientização e disponibilizamos pontos adequados para descarte de resíduos orgânicos, reduzindo em 60% as ocorrências.”

6. Estabeleça um programa de manutenção preventiva sistemática
Por fim, mas não menos importante, a implementação de um programa estruturado de manutenção preventiva é essencial para evitar entupimentos. Este programa deve incluir:
- Inspeção visual periódica do funcionamento dos mictórios
- Verificação mensal das condições dos sifões e conexões
- Limpeza trimestral profissional das tubulações com equipamentos específicos
- Documentação de ocorrências para identificação de padrões e pontos críticos
“A introdução de um programa de manutenção preventiva nos sanitários do nosso terminal reduziu em 82% os chamados emergenciais relacionados a entupimentos, além de prolongar significativamente a vida útil dos equipamentos”, afirma Luciana Costa, gerente de operações de um terminal rodoviário com fluxo médio de 25 mil pessoas por dia.
Um estudo publicado pelo Instituto Brasileiro de Engenharia de Custos (IBEC) demonstrou que cada real investido em manutenção preventiva de sistemas hidrossanitários economiza, em média, R$ 4,70 em despesas com manutenção corretiva e danos associados.

Conclusão: Prevenção como investimento, não como custo
A implementação das seis estratégias apresentadas neste artigo pode representar a diferença entre um sistema sanitário constantemente problemático e uma instalação eficiente e confiável. É importante ressaltar que estas medidas devem ser adaptadas às características específicas de cada instalação, considerando variáveis como volume de uso, perfil dos usuários e particularidades da edificação.
Como profissionais responsáveis pela gestão de edificações sabem, o custo da prevenção é sempre significativamente menor que o da correção. No caso específico de mictórios, esta equação é ainda mais favorável à prevenção, considerando os transtornos operacionais, danos à imagem institucional e potenciais problemas de saúde pública associados a instalações sanitárias inadequadas.
“Quando assumimos a gestão deste complexo empresarial, gastávamos aproximadamente 12% do orçamento de manutenção com problemas em mictórios. Após implementarmos um programa integrado de prevenção, este percentual caiu para menos de 3%, liberando recursos para outras melhorias”, compartilha Renata Mendes, facility manager de um complexo comercial em Salvador.
A mensagem final é clara: prevenir o entupimento de mictórios não é apenas uma questão de manutenção predial, mas um componente importante da gestão eficiente de recursos e da promoção de ambientes saudáveis e funcionais.