Por Marcos Andrade, engenheiro civil e especialista em saneamento predial com mais de 20 anos de experiência em manutenção hidráulica e gestão condominial.
A rotina de um condomínio envolve muito mais do que garantir a segurança e o bem-estar dos moradores. A gestão eficiente passa também por cuidar da infraestrutura predial, especialmente da rede de esgoto e das tubulações. E quando o assunto é desentupimento, a atenção precisa ser redobrada. Um entupimento mal resolvido pode gerar transtornos sérios, custos elevados e até mesmo riscos à saúde dos condôminos.
Neste artigo, vamos explorar de forma clara e profunda quais são os cuidados e responsabilidades no desentupimento em condomínios, trazendo orientações práticas, relatos reais e as melhores práticas de manutenção preventiva. Acompanhe.

Por que o desentupimento em condomínios exige atenção especial?
Ao contrário de uma residência individual, um condomínio concentra um grande volume de uso diário das instalações hidráulicas, o que torna o sistema mais suscetível a entupimentos. Segundo dados do Sindicos Planning, cerca de 32% dos problemas emergenciais em condomínios estão relacionados a entupimentos de esgoto ou gordura.
Além disso, as instalações em condomínios são interligadas — ou seja, um descarte incorreto em um único apartamento pode afetar toda a linha de esgoto vertical (coluna), impactando diversos moradores.
“Já presenciei casos em que o descarte de óleo de cozinha por apenas um morador acabou comprometendo o encanamento de três andares inteiros. O problema foi tão sério que tivemos que acionar uma empresa especializada com hidrojateamento para resolver”, conta Cláudia M., síndica profissional há mais de 12 anos.

Responsabilidade: de quem é o problema?
Uma das dúvidas mais comuns quando há um entupimento em condomínio é: quem paga pelo desentupimento? O morador ou o condomínio?
A resposta depende da localização do entupimento:
-
Parte privativa (interno ao apartamento): se o entupimento ocorrer dentro da unidade, como na pia da cozinha ou no ralo do banheiro, a responsabilidade é do morador.
-
Parte comum (colunas de esgoto, caixa de gordura coletiva, ramais principais): nesses casos, o conserto e os custos são de responsabilidade do condomínio.
Segundo o Código Civil Brasileiro (art. 1.336 e 1.348), compete ao síndico zelar pelas áreas comuns e garantir sua manutenção. Portanto, é papel da administração condominial acompanhar a situação da rede hidráulica comum e agir com rapidez diante de qualquer anormalidade.

Causas mais comuns de entupimento em condomínios
O conhecimento das causas mais frequentes ajuda a prevenir o problema. As principais são:
-
Descarte incorreto de óleo de cozinha
-
Jogar restos de comida no ralo
-
Uso de produtos inadequados em vasos sanitários (como lenços umedecidos, absorventes ou cotonetes)
-
Acúmulo de cabelo em ralos
-
Falta de manutenção nas caixas de gordura e esgoto
De acordo com levantamento da empresa HydroClean, especializada em limpeza técnica predial, 85% dos entupimentos em condomínios poderiam ter sido evitados com ações educativas e manutenção preventiva periódica.

Manutenção preventiva: a melhor aliada do condomínio
A manutenção preventiva é o caminho mais eficiente — e econômico — para evitar surpresas desagradáveis. O ideal é que o condomínio adote um plano de manutenção periódica, que inclua:
-
Limpeza da caixa de gordura a cada 6 meses
-
Inspeção das colunas de esgoto com câmera técnica
-
Desentupimento preventivo por hidrojateamento
-
Campanhas de conscientização com os moradores
“Depois que incluímos a manutenção programada no cronograma do condomínio, nunca mais tivemos problemas sérios com entupimentos. Economizamos em média 30% com emergências hidráulicas”, relata Marcelo Tavares, síndico de um edifício com 72 unidades em Belo Horizonte.
Além disso, é fundamental manter registro de todas as manutenções realizadas. Essa prática oferece respaldo jurídico em caso de disputas e facilita a tomada de decisões futuras.

Como escolher uma empresa de desentupimento confiável?
Nem todas as empresas estão preparadas para atender condomínios, que exigem equipamentos específicos e conhecimento técnico para lidar com estruturas verticais e coletivas. Ao contratar um serviço de desentupimento, é importante verificar:
-
Se a empresa possui CNPJ regularizado
-
Experiência com serviços prediais
-
Uso de equipamentos modernos como sondas com câmera e hidrojateamento
-
Garantia do serviço prestado
-
Avaliações e referências de outros condomínios atendidos
Evite recorrer a soluções caseiras ou serviços de procedência duvidosa. Além de não resolver o problema, isso pode agravar a situação e causar danos estruturais.

Conscientização: um papel de todos
A gestão do condomínio pode implementar campanhas educativas simples, mas eficazes:
-
Informativos nos elevadores e quadros de aviso
-
Palestras ou vídeos curtos sobre uso correto das instalações
-
Distribuição de folhetos com orientações básicas de descarte
Criar uma cultura de responsabilidade coletiva é essencial. Pequenos hábitos individuais refletem diretamente na saúde do sistema hidráulico como um todo.

Conclusão
O desentupimento em condomínios vai muito além de um problema pontual. Ele envolve prevenção, responsabilidade compartilhada e gestão eficiente. Quando há planejamento, informação e parceria entre síndicos, moradores e prestadores de serviço, o risco de transtornos diminui drasticamente.
Como especialista, reforço: não espere o problema acontecer para agir. Um plano de manutenção bem estruturado custa menos do que uma emergência. E mais importante que resolver o entupimento é garantir que ele não volte a acontecer.
Sobre o autor:
Marcos Andrade é engenheiro civil formado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com MBA em Gestão de Manutenção Predial e mais de duas décadas atuando com saneamento, redes hidráulicas e gestão condominial. Fundador da consultoria técnica PredialControl, Marcos é referência em soluções de infraestrutura predial no Brasil.